2009

Atravessei metade do mundo, pisei na China e na África, voltei para casa ou saí de casa
Deixei para trás outro amor, fugi de um casamento, me apaixonei, desapaixonei e derramei uma única lágrima no abracinho da Fabi
Beijei bem menos do que gostaria e bem mais do que deveria
Conheci minha sobrinha Giulinha, apertei inúmeras vezes Gigi, Bela e a Giulia, nunca senti tanto orgulho de ser tia, amei e amo de maneira insuportável essas crianças.
Estreitei os laços com minhas irmãs, afrouxei-os com minha mãe, tomei um susto com minha vó, senti saudades do meu pai inúmeras vezes e ainda não consegui colocar as coisas em ordem com o resto da família.
Virei várias páginas,
Deixei amigas de infância para trás sem deixar de amar nenhuma delas, reencontrei amigas do ginásio e do colegial e foi como se as tivesse visto ontem.
Conheci muita gente e fiz alguns novos amigos, aprendi que ranzinzas e resmungões podem ser boa companhia.
Troquei de profissão quatro vezes.
Bati o recorde em tomar café, tomar banho, não fazer exercícios e falar abobrinha.
Ri muito mais do que chorei.
Fui feliz.

Se todo fim de tarde chovesse

Para amenizar o calor infernal do dia e proporcionar uma noite de sono confortável.
Para escoar no caminho de volta os problemas do trabalho e chegar em casa de alma lavada.
Para chorar junto grandes perdas.
Para dançar de alegria.
Para apenas olhar para cima, enquanto os pingos encontram o rosto e sorrir.
Para ensinar as crianças que quando chove a água da piscina fica quente.
Para rir dos que correm com medo de se molhar.
Para beijar feito adolescentes.
Para esquecer uma paixão.
Para amar.
Para ter todo fim de tarde a sensação de renovo e liberdade que tomar chuva me traz.

Do que me sobra, o que me falta.

Eu gosto de beber e discutir política, de achar que sei ou posso encontrar a solução para os males da humanidade. Eu odeio a sensação de impotência diante de problemas maiores que eu e me irritar com problemas bem menores.
Eu preciso aprender a encarar os tropeços do dia a dia com mais bom humor e menos gastrite. Aprender a ignorar futilidades e mesquinharias e enfezar apenas com o que vale a pena, se é que algo um dia vai valer essa pena.
No meio do alvoroço, das explosões em cadeia e problemas em efeito dominó, eu quero ter um grito de chega! Imperativo a guinar o barco, virar o jogo.
Que a minha mão estendia significasse muito mais o oferecer ajuda do que um pedido de socorro.
Eu tenho a capacidade de me reconstruir e recomeçar, falta nesse quebrar e remodelar o aperfeiçoar.
Entre os meus extremos de ser brava e um humor excrachado, talvez um meio termo de mais serenidade e um humor mais fino e inteligente. A falta de oscilações talvez signifique mais sabedoria, se eu não perder tempo discutindo bobagens talvez me sobre tempo para mudar o mundo e até fazer política.